No âmbito federal, o Esporte saiu da Educação para ser uma das quatro dezenas de pastas do primeiro escalão que se encaixariam muito bem numa saleta da Esplanada, como departamento ou assemelhado. Na longa gestão da dupla Agnelo Queiroz/ Orlando Silva, o ministério se apequenou em escândalos e aparelhamento, apesar de ter recebido excelentes oportunidades, inclusive orçamentárias. Agora, com Aldo Rebelo, ganha nova chance.
Aldo, ao menos, é honesto. O feudo partidário está mantido, mas sob as rédeas de um cavaleiro de boa figura. Resta-lhe desfazer o sistema de roubalheira, mesmo que custe algema para camaradas e companheiros. Há duas notícias, uma péssima, a de que tornou-se da confiança do dono da CBF, Ricardo Teixeira; outra ótima, a de que vai estancar a farra das organizações não-governamentais governamentais.
O enquadramento chegou a tal ponto que os colegas de sigla do ministro se apossaram de secretarias estaduais e municipais na nação inteira. O recado era simples, “nomeia um dos nossos que o dinheiro sai”. As ONGs mandavam tanto que ocupante de cargo graúdo, mesmo sob risco de comprometer biografias, encostava-se em bandidos para sobrar o alimento das campanhas. É o axioma que aguarda o novo chefe: romper com financiadores e aliados ou continuar a administração de rombos.
Tudo está preparado para o furto. Em conjunto, o governo e sua bancada no Congresso se cercaram das garantias para o enriquecimento rápido. No Legislativo, foram aprovados o Estatuto do Torcedor, a isenção total de tributos para a Fifa e o RDC, a autorização para encher os bolsos sem ser incomodado. O Executivo se equipou das desculpas necessárias à espera das manchetes sobre maracutaias. O problema é que a garagem e o porta-malas do carro do ministro extrapolaram os limites até para quem se acostumou à cleptocracia vermelha.
Os primeiros desafios de Aldo são: extirpar os contratos com entidades picaretas (para evitar injustiças, a melhor maneira é eliminar qualquer relação com todas); exigir na Justiça o ressarcimento das somas desviadas e a punição dos ladrões, ainda que a ficha de filiação seja igual à do ministro; trocar os asseclas por pessoas competentes; oficiar a prefeitos e governadores que não é preciso ter integrante do PCdoB para fazer convênio; cumprir as promessas dos antecessores, que abusaram da boa-fé de quem ficava fora de seus banquetes.
Goiás, por exemplo, foi vítima contumaz do bando. À exceção da corriola, acossada pelo Ministério Público e os tribunais por suspeita de desvios milionários, o restante viu parcas verbas. Orlando Silva, ao lado do proprietário da CBF, firmou a construção de um estádio em Senador Canedo à altura de receber seleções. Não cumpriu. Ambos, o ex-ministro e Teixeira, também devem explicações sobre os motivos de excluírem Goiânia da lista de sedes da Copa. A expectativa é que, pelo bem do Brasil, Aldo Rebelo enfrente os próprios amigos, os seus e os do alheio, que às vezes são os mesmos.
Por: Demóstenes Torres
Domingo, 30/10/2011 ás 23h:55
Postada pela Redação