Liberdade de expressão

“É fácil submeter povos livres: basta retirar – lhes o direito de expressão”. Marechal Manoel Luís Osório, Marquês do Erval -15 de abril de 1866

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01 setembro, 2023

7 LIVROS QUE FORAM EXCLUÍDOS DA BÍBLIA


Em uma exploração revolucionária, estudiosos e teólogos estão examinando cada vez mais os livros excluídos da Bíblia, lançando nova luz sobre o pensamento e a história cristãos primitivos. Estes textos “extra canônicos”, frequentemente chamados de Apócrifo ou “escritos ocultos”, têm provocado debates fervorosos e interesse generalizado entre crentes e céticos.

O que Constitui o Apócrifo?

 

O Apócrifo compreende uma coleção de antigos textos religiosos que não foram incluídos na versão padrão da Bíblia cristã. Os Concílios de Hipona e Cartago, realizados nos séculos 4 e 5 respectivamente, foram alguns dos primeiros a estabelecer diretrizes para determinar quais livros deveriam ser incluídos. Contudo, a Igreja Ortodoxa Oriental aceita vários livros que as tradições Católica Romana e Protestante consideram apócrifos.

A Importância dos Livros Excluídos da Bíblia

 

A omissão desses livros levanta questões intrigantes sobre a formação da doutrina cristã e o modelamento das comunidades religiosas. Livros como o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Maria e o Livro de Enoque oferecem perspectivas alternativas sobre histórias bíblicas conhecidas e introduzem novos ensinamentos atribuídos a Jesus e outros personagens importantes. Consequentemente, esses textos podem expandir dramaticamente nossa compreensão das crenças e práticas cristãs primitivas.

Controvérsia e Censura

 

Estudiosos frequentemente questionam as motivações por trás da exclusão desses livros da Bíblia. Alguns argumentam que considerações políticas e a consolidação do poder desempenharam um papel significativo. De fato, os livros excluídos da Bíblia muitas vezes desafiam doutrinas tradicionais ou propõem visões teológicas consideradas heréticas pelo cristianismo convencional. Isso, por sua vez, levou a alegações de censura e à supressão de vozes minoritárias dentro da igreja primitiva.

Relevância Moderna e Exploração Acadêmica

 

A era digital, no entanto, tornou esses textos ocultos mais acessíveis do que nunca. Repositórios online e traduções modernas estão incentivando uma nova geração de estudiosos e leigos a se envolverem criticamente com o Apócrifo. Além disso, os textos estão vivenciando um ressurgimento em popularidade, pois frequentemente aparecem em meios de comunicação populares, desde romances mais vendidos até filmes de grande sucesso.

 

Estudiosos estão agora usando técnicas avançadas, como análise textual e pesquisa arqueológica, para examinar esses textos antigos. Equipes estão escavando em locais históricos ligados às comunidades cristãs primitivas, na esperança de descobrir novos manuscritos que possam lançar luz sobre os livros excluídos da Bíblia. Com o advento da tecnologia, pesquisadores também estão empregando algoritmos de aprendizado de máquina para identificar padrões e conexões anteriormente ignorados.

 

Confira, abaixo, alguns livros excluídos da Bíblia:

O Apocalipse de Pedro

 

O Apocalipse de Pedro, uma obra do século II d.C., oferece uma visão fascinante e, por vezes, perturbadora, do Juízo Final e do destino das almas no pós-morte. Diferente do Apocalipse de João, que integra o Novo Testamento, este texto foi excluído da Bíblia por apresentar imagens gráficas do inferno e por seu conteúdo que questiona a ortodoxia cristã. O livro descreve em detalhes as recompensas celestiais para os justos e os tormentos infernais para os pecadores, usando linguagem altamente simbólica e alegórica.

 

Este texto captura a atenção por seu enfoque no dualismo moral e na justiça divina. Alguns estudiosos argumentam que o Apocalipse de Pedro influenciou as concepções medievais do céu e do inferno, embora não tenha sido canonizado. O fato de o livro ter sido amplamente lido e respeitado em comunidades cristãs primitivas torna sua exclusão ainda mais intrigante. Devido às suas diferenças significativas em relação ao Apocalipse canônico de João, muitos consideram este texto uma adição valiosa ao estudo do eschaton cristão, a concepção do fim dos tempos na teologia cristã.

A Epístola de Barnabé

 

A Epístola de Barnabé é outro texto fascinante que não conseguiu um lugar na Bíblia canônica. Escrita provavelmente entre os séculos I e II d.C., esta obra oferece uma análise detalhada da Lei Mosaica e propõe uma interpretação espiritual do Antigo Testamento. Diferente das cartas de Paulo, a Epístola de Barnabé enfatiza a ruptura entre o judaísmo e o cristianismo emergente, defendendo que os cristãos são os verdadeiros herdeiros do pacto de Deus.

O texto é particularmente notório por sua abordagem alegórica da Bíblia Hebraica. Por exemplo, ele explica rituais e mandamentos judaicos como prefigurações de princípios e eventos cristãos. Este método de interpretação tinha uma grande influência nos Padres da Igreja, mas o teor da Epístola, por vezes considerado polêmico ou mesmo antijudaico, pode ter contribuído para sua exclusão do cânon bíblico.

 

Seu conteúdo oferece uma janela preciosa para entender as tensões e debates teológicos que permeavam as primeiras comunidades cristãs. A exclusão da Epístola de Barnabé do cânon cristão é tema de muitas discussões acadêmicas, já que ela nos ajuda a compreender como as fronteiras entre o cristianismo e o judaísmo foram sendo delineadas no período formativo do cristianismo. O texto, portanto, é um recurso valioso para qualquer um interessado em explorar as complexidades da formação da identidade cristã primitiva.

Evangelho da Infância de Tiago

 

O Evangelho da Infância de Tiago, também conhecido como Protoevangelho de Tiago, é uma obra do século II d.C. que foca na vida da Virgem Maria e nos anos de infância de Jesus. Este texto fornece um relato detalhado dos pais de Maria, Joaquim e Ana, bem como da própria concepção e nascimento de Jesus. É aqui que se origina a ideia da virgindade perpétua de Maria, um conceito posteriormente adotado pela Igreja Católica.

 

Este evangelho apócrifo é notável por seu impacto na arte e na liturgia cristãs, particularmente nas representações da Natividade e da vida da Virgem Maria. Apesar de sua influência, o texto foi excluído do cânon bíblico, em grande parte devido a suas descrições milagrosas e sobrenaturais que pareciam ir além das narrativas mais contidas dos Evangelhos canônicos. Por exemplo, ele apresenta milagres realizados por Jesus ainda criança, algo que os Evangelhos canônicos não fazem.

 

Sua exclusão da Bíblia é objeto de análise e debate, especialmente porque ele fornece uma rica tapeçaria de eventos e personagens que preenchem as lacunas deixadas pelos quatro Evangelhos canônicos. O Evangelho da Infância de Tiago nos permite entender como as primeiras comunidades cristãs estavam ávidas por mais informações sobre a vida e a ancestralidade de figuras centrais como Maria e Jesus.

O Pastor de Hermas

 

O Pastor de Hermas é um texto cristão primitivo que data do século II d.C., provavelmente composto em Roma. Este trabalho fascinante é uma mistura de alegoria, visão, e mandamentos éticos, apresentados como revelações diretas de um anjo na forma de um pastor. O texto foi amplamente lido nas comunidades cristãs primitivas e teve grande influência na ética cristã, abordando temas como arrependimento, pureza moral e a importância da fé.

 

Diferentemente de outros textos que focam em narrativas históricas ou dogmas teológicos, o Pastor de Hermas se concentra em aspectos práticos da vida cristã. Ele apresenta uma série de mandamentos e parábolas destinados a guiar os fiéis na busca pela retidão. Entre suas contribuições mais notáveis está a noção de que o arrependimento pós-batismo é possível, um tema que gerou debates consideráveis nos círculos cristãos primitivos.

 

A obra foi altamente considerada na antiguidade, chegando a ser citada por Padres da Igreja como Irineu e Orígenes. No entanto, ela foi eventualmente excluída do cânon bíblico, provavelmente devido à sua natureza mais ética e menos teológica, bem como pela falta de clareza sobre sua autoria e origem.

Evangelho Secreto de Marcos

 

O Evangelho Secreto de Marcos é um dos textos mais enigmáticos e debatidos entre os estudiosos de textos cristãos antigos. Conhecido principalmente através de uma carta atribuída a Clemente de Alexandria, este evangelho é descrito como uma versão mais longa e esotérica do Evangelho de Marcos canônico. A existência real deste texto permanece objeto de controvérsia acadêmica, já que as únicas evidências diretas são fragmentos citados na referida carta.

 

O conteúdo específico do Evangelho Secreto de Marcos é largamente desconhecido, mas a carta de Clemente sugere que ele continha episódios e ensinamentos de Jesus que foram considerados muito delicados ou esotéricos para serem incluídos na versão canônica. Estas passagens aparentemente focalizavam em rituais de iniciação e mistérios espirituais, levantando questões sobre as práticas cristãs primitivas e os limites do ensino público de Jesus.

 

Devido à sua natureza enigmática e a escassez de manuscritos, o Evangelho Secreto de Marcos não foi incluído no cânon bíblico. Sua exclusão também pode ser atribuída à controvérsia em torno de sua autenticidade e ao seu conteúdo potencialmente herético, que poderia divergir significativamente das doutrinas cristãs ortodoxas.

Evangelho de Tomé

 

O Evangelho de Tomé é um dos textos mais intrigantes fora do cânon bíblico. Originário provavelmente do século I ou II d.C., este evangelho não apresenta uma narrativa linear da vida de Jesus, como os quatro Evangelhos canônicos. Em vez disso, consiste em uma série de ditos e ensinamentos atribuídos a Jesus, muitos dos quais são enigmáticos e abertos a diversas interpretações.

 

Este texto é especialmente notável por sua falta de contexto narrativo. Não há histórias de milagres, nem descrições do Juízo Final ou outros eventos escatológicos. Sua estrutura única e conteúdo místico fizeram com que ele fosse classificado frequentemente como um texto gnóstico, embora essa classificação seja motivo de debate entre os estudiosos.

 

O Evangelho de Tomé foi excluído do cânon bíblico principalmente devido à sua forma não-narrativa e aos seus ensinamentos, que muitas vezes entram em conflito com as doutrinas cristãs ortodoxas. Por exemplo, ele inclui ditos que parecem promover o autoconhecimento em detrimento da fé institucionalizada, um ponto de vista que não se alinha bem com o cristianismo ortodoxo.

O Livro de Enoque

 

Datando do segundo século a.C., o Livro de Enoque é uma das obras mais enigmáticas e reveladoras entre os textos judaico-cristãos que foram excluídos do cânon bíblico. Composto de várias partes que abordam temas como a origem dos anjos caídos, a genealogia do mal e visões apocalípticas, este texto teve um impacto duradouro na teologia e na escatologia cristãs.

 

Uma de suas contribuições mais notáveis é a introdução dos “Vigilantes”, anjos que desobedecem a Deus para ter relações com mulheres humanas, resultando no nascimento de gigantes nefilins. Este tema foi posteriormente incorporado em diversas tradições e literaturas, mas foi considerado muito problemático ou herético para ser incluído na Bíblia oficial.

 

A exclusão do Livro de Enoque do cânon bíblico é em parte atribuída à sua natureza heterodoxa e aos temas controversos que explora. Enquanto a obra é citada no Novo Testamento, especificamente na Epístola de Judas, sua abordagem sobre a natureza divina e a cosmologia não estava em conformidade com as doutrinas cristãs que eventualmente se tornaram ortodoxas.

 

Fontes: Britannica, Britannica 2, The Life of Mary and Birth of Jesus: The Ancient Infancy Gospel of James, The Shepherd of Hermas, Universiade de Yale

Sexta-feira, 1º de setembro 2023 às 11:20  


   

 

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