Pelo
segundo ano seguido, o Dia das Mães será comemorado durante a pandemia da
covid-19. Uma das datas mais importantes do calendário brasileiro, será
novamente celebrado em casa ou em pequenas reuniões. E as mães, que na maioria
dos casos são as que acumulam as tarefas domésticas e a criação dos filhos,
passarão mais uma data celebrando e refletindo sobre esse período desafiador da
história da humanidade.
É
o caso da secretária escolar Roberta Gerardi, mãe da Gabriela, de 7 anos e da
Giovana, de 13 anos. Ela diz que vai passar a data com a mãe, de 70 anos, e com
a tia, de 77 anos, mas as duas já tomaram a vacina contra a covid-19.
Roberta
disse que o período de isolamento tem sido de muito aprendizado e relembra o
começo da fase.
“No
começo foi bem legal, a gente cozinhava juntas, inventava fazer um monte de
coisa e foi bem divertido, como se fosse umas férias, mas de repente aquelas
férias começaram a não ter fim, a rotina veio e teve uma fase bem complicada. A
gente começa a perceber que tem muita diferença de pensamentos, idades e vem as
divergências, mas aí a gente vai conversando, respirando fundo e com muito amor
a gente vai resolvendo as coisas”.
A
secretária disse que a cozinha aproximou as três. “Essa parte da cozinha acabou
juntando a gente e fazendo com que esse momento tão difícil ficasse um
pouquinho mais suave. A cozinha que juntou a gente”, disse emocionada.
Roberta
ficou apenas 30 dias em casa e depois teve que voltar a trabalhar
presencialmente, e as crianças ficaram sob os cuidados da avó. Mesmo assim, sem
poder ir a outros lugares e viajar, a convivência foi muito próxima e tudo
mudou.
“A
rotina, as necessidades das crianças acabam sendo outras, e aí a gente vai
vendo que elas são carentes, ao mesmo tempo que a gente está presente, estamos
ausentes com a correria do dia a dia, mas esse isolamento fez com que a gente
se aproximasse mais, então tudo mudou. Mas foi uma mudança para melhor, porque
quando a gente tem amor e tem paciência, no final tudo dá certo”.
Para
ela, manter o equilíbrio não é tarefa fácil, mas o amor de mãe - e muita
paciência - ajudam a segurar os pontos de divergência que ocorrem depois de
tanto tempo juntas. “É bem complicado manter o equilíbrio com uma criança de 7
anos e uma quase adolescente de 13 anos desesperada para sair da toca, mas a
gente respira fundo, pede a Deus orientação e segue em frente. E pensar no
amor, que é o maior de todos os sentimentos, no respeito mútuo e pensar que
dias melhores vão vir e que tudo isso é um aprendizado para que a gente consiga
evoluir”.
Dividir
o mesmo espaço, mesmo com quem se ama, 24 horas por dia, não tem sido nada
fácil. As famílias precisam de regras e paciência para não abalar a relação
mães e filhos, já que a rotina dentro de casa, há mais de um ano, teve que ser
refeita, como detalha o psicólogo Marcelo Alves, professor de psicologia na
Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.
“A
rotina teve que ser reinventada tendo em vista que você tem num mesmo espaço:
escritório, lar, creche, escola, casamento, filhos, profissão. A rotina foi
atravessada por inúmeros fatores, alguns externos, como o home office, então
isso afeta a relação familiar, tendo em vista que às vezes a criança não
entende que o pai e a mãe estão num escritório e a criança quer atenção mesmo
tendo os pais ali”.
E
em especial, a mulher acabou nesse momento tendo preocupações adicionais.
“Levando-a a ter que se desdobrar e reinventar a rotina familiar”, disse o
psicólogo. “Por um lado, há uma aproximação muito grande. Agora a escola também
está dentro de casa, e a mãe também tem que dar condições nesse sentido de dar
uma saúde mental minimamente protegida, já que a criança perdeu muitos seus
espaços de brincar”.
A
jornalista Rebeca Maria Paroli Makhoul, mãe do Thiago, de 6 anos, e do João
Gabriel, de 10 anos, sabe da importância de prestar atenção nas questões
emocionais de seus filhos. “Não está sendo fácil para ninguém, nem para as
crianças, eles choram com mais facilidade, ficam tristes por não poderem
brincar com os amigos, ir na casa deles, de não poder ir até a casa dos avós.
Será o segundo dia das mães sem ver as avós. Eu me preocupo com as sequelas
emocionais que essa pandemia deixará em todos nós, principalmente nas crianças.
Sinto eles com muito medo e acredito que as crianças concretizam o medo, o medo
do monstro, na realidade, deve ser o medo que nós, adultos, passamos para
eles”.
Para
amenizar, ela faz diferentes atividades com as crianças. “Para manter o
equilíbrio emocional, procuro distraí-los, saio um pouco com eles para passear
com o cachorro, fazemos algumas comidas especiais em casa, assistimos séries
juntos e principalmente conversamos abertamente sobre todos os sentimentos
deles. Não minto, mas tem coisas que acho que não precisam ser ditas para
crianças”, disse Rebeca.
Apesar
dos desafios na relação, ela enfatiza que a possibilidade de ficar mais tempo
com eles foi o melhor que poderia ter acontecido. “As mudanças positivas foram
as leituras diárias em família, as brincadeiras em família que temos tempo para
fazer e depois que isso tudo passar quero ter um tempo para manter isso
também”.
“Nossa
rotina mudou”, acrescenta. “Acordam mais tarde, dormem mais tarde, ficam mais
tempo com eletrônicos. Mas não cobro muito deles, penso que vai ser algo que
vai passar e quando percebo que realmente há um exagero, vou brincar com eles”.
O
psicólogo Marcelo Alves orienta a ter muito diálogo e a determinação de uma
rotina para manter o equilíbrio das relações nesse período, sem data para
terminar. “Manter uma rotina ajuda muito nas relações porque diminui o
estresse. As relações, para serem equilibradas, a gente tem que atender as
necessidades que cada um apresenta, é um ponto importante a ser negociado, cada
uma terá em um momento do dia necessidades que deverão ser atendidas, e essas
necessidades deverão ser negociadas”.
Marcelo
Alves defende que a organização ajuda muito nas relações. “Negociar, discutir,
e principalmente organizar, ajuda muito no equilíbrio das relações. Mas,
lógico, percebendo um estresse mais elevado, uma ansiedade exagerada ou mesmo
episódios melancólicos e depressivos deve-se pedir ajuda, ter atendimento,
porque hoje você pode ter atendimento por profissionais da psicologia e da
psiquiatria online, são coisas que também vão ajudar no equilíbrio das
relações”, aconselha.
Mesmo
com tantas mudanças nas relações, o psicólogo aconselha aos adolescentes e às
crianças a aproveitarem o momento. “É natural que você viva o seu mundo, e esse
mundo tem que ser dividido com seus pais, mas procure entender que o seu mundo
não será invadido, mas deverá ser repensado”, aconselha o especialista, que
lembra que o adolescente ou mesmo a criança mais velha já vivem o isolamento no
quarto e nas amizades.
“Eu
diria que, com a proximidade, curta mais o seu pai e a sua mãe, afinal de
contas estamos passando por um momento que é muito dramático para muitas
famílias. Talvez o adolescente e a criança mais velha não queiram ter contato
com tudo isso que está acontecendo, mas saiba que a vida é finita e esse
momento que está sendo propiciado de proximidade ele deve ser vivido”.
Mas,
para uma boa convivência, coisas do dia a dia precisam ser negociadas,
aconselha. “Cozinhar juntos, fazer uma tarefa, jogar videogame juntos, divida
um pouco do seu mundo com seus pais, mas também saiba estar e entender o mundo
deles, principalmente o mundo da mãe que nesse momento tem dado conta de tantas
coisas, saiba também olhar a preocupação que ela tem com você e as coisas do
dia a dia”.
“Aproveite
bem esse momento, apesar de dramático, não precisa ser triste, tendo que
dividir espaços dentro da casa. Conflitos são inevitáveis, mas não permita que
eles separem você de sua mãe num momento onde famílias foram separadas
drasticamente [pela doença]”, finaliza o professor. (ABr)
Domingo,08
de maio, 2021 ás 11:13