A
Polícia Federal (PF) começou a ouvir quarta-feira (24/07) os depoimentos de
quatro suspeitos de acessar, sem autorização, o telefone celular do ministro da
Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Suspeitos de divulgar parte das
comunicações do ministro com procuradores da República que integram a
força-tarefa Lava Jato, Danilo Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias
Santos, Suelen Priscila de Oliveira e Walter Delgatti Neto foram detidos terça-feira
(23/07) em caráter temporário e prestam depoimento na Superintendência da
Polícia Federal, em Brasília.
Segundo
a PF, os quatro são investigados pela suposta prática de crimes cibernéticos e
foram detidos nas cidades de Araraquara, São Paulo e Ribeirão Preto. Além dos
quatro mandados de prisão temporária, também foram cumpridos sete mandados de
busca e apreensão. Segundo Ariovaldo Moreira, advogado do casal Gustavo e
Suellen, seus clientes foram detidos em São Paulo, de onde foram transferidos
para a capital federal, onde passaram a noite em uma sala de delegacia no
Aeroporto Juscelino Kubitschek.
Mensagens
Para
o defensor, Gustavo foi detido por ser amigo de Walter. “Estou presumindo que a
Suelen está presa por ser companheira do Gustavo. E que ele está aqui por ter
certa relação de amizade com o Walter”, disse Moreira, revelando que Gustavo
confirmou ter recebido de Walter, pelas redes sociais, imagens de uma suposta
mensagem enviada pelo então juiz federal Sergio Moro a outras autoridades
públicas.
“Segundo
Gustavo, Walter mostrou a ele algumas interceptações de uma autoridade há algum
tempo. Essa autoridade era o hoje ministro da Justiça e Segurança Pública,
Sergio Moro, mas Gustavo negou qualquer envolvimento com a interceptação dessas
mensagens. E, inclusive, chegou a alertar Walter que aquilo lhe causaria
problemas”, declarou o advogado, acrescentando que Gustavo não se recorda da
data exata em que Walter lhe enviou cópia das mensagens.
Ainda
segundo o defensor, seu cliente não denunciou o amigo pela relação de amizade
que os dois mantinham, mesmo que, segundo Gustavo, não se vejam há muito tempo.
Ainda
de acordo com Moreira, na breve conversa que tiveram na delegacia da PF no
Aeroporto Juscelino Kubitschek, Gustavo comentou que o quarto suspeito, Danilo
Cristiano, também foi envolvido na investigação devido a laços de amizade com
Walter. “O Gustavo disse que, com certeza, o rapaz caiu de alegre, tal como ele
mesmo. Esses foram os termos que ele usou”, comentou o advogado, afirmando que
seu cliente conhece Danilo “de vista”.
Os
quatro mandados de prisão temporária e os sete de busca e apreensão foram
emitidos pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, titular da 10ª Vara Federal de
Brasília. Em sua decisão, o magistrado aponta que, ao pedir autorização para
cumprir os mandados, a PF indicou, entre outras coisas, que, entre 18 de abril
e 29 de junho, Gustavo movimentou em sua conta bancária R$ 424 mil. Suelen, por
sua vez, movimentou pouco mais de R$ 203 mil entre 7 de março e 29 de maio.
Ainda segundo a PF, Gustavo, um DJ de 28 anos, informou ao banco em que tem
conta que seu rendimento mensal é da ordem de R$ 2.866. Suelen informou ganhar,
mensalmente, cerca de R$ 2.192.
“Diante
da incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal,
faz-se necessário realizar o rastreamento dos recursos recebidos ou movimentados
pelos investigados e de averiguar eventuais patrocinadores das invasões ilegais
dos dispositivos informáticos”, concluiu o juiz federal ao autorizar a quebra
do sigilo bancário dos quatro suspeitos de integrar organização criminosa e
invadir os celulares não só de Moro, mas também do desembargador Abel Gomes, do
Tribunal Regional Federal da 2ª Região; do juiz federal Flávio Lucas, da 18ª
Vara Federal do Rio de Janeiro, e dos delegados federais Rafael Fernandes e
Flávio Vieitez.
Na
casa de Gustavo, foram apreendidos R$ 100 mil que, segundo o advogado, seriam
usados para a compra de Bitcoin. “Ele garante ter como comprovar a origem do
dinheiro apreendido”.
Vazamento
A
suspeita de invasão do celular do ministro da Justiça e Segurança Pública
quando ele ainda era juiz na 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável por
julgar os processos envolvendo réus da Operação Lava Jato, foi tornada pública
pelo próprio ministério no começo de junho. Na ocasião, a pasta informou que
hackers tinham tentado invadir o telefone celular de Moro. O ministro só
percebeu o que foi inicialmente classificado como uma mera tentativa no dia 4
de junho, quando recebeu uma ligação do seu próprio número. Após a chamada, ele
recebeu novos contatos por meio do aplicativo de mensagens Telegram, que
garante que já não usava há cerca de dois anos. Imediatamente, o ministrou
abandonou a linha e acionou a PF.
Dias
depois, trechos de supostas mensagens que o ministro teria trocado com
procuradores da força-tarefa da Lava Jato, do Ministério Público Federal (MPF),
passaram a ser divulgados por veículos de imprensa, principalmente, pelo site
The Intercept Brasil, que informou que os arquivos foram entregues por uma
fonte anônima. O veículo afirma que decidiu tornar pública parte do conteúdo, tendo-o
checado e confirmado a veracidade, por concluir tratar-se de assunto de
interesse público.
Hoje,
em sua conta na rede social Twitter, o editor-chefe do Intercept, o jornalista
Gleen Greenwald, publicou uma série de comentários questionando a rapidez com
que a Polícia Federal, que é subordinada ao Ministério da Justiça e Segurança
Pública, conseguiu localizar os suspeitos de invadir o telefone celular do
ministro. Gleen também lembrou que, nas últimas décadas, algumas reportagens
marcantes sobre fatos políticos foram realizadas a partir do vazamento de
informações.
“O
jornalismo mais importante nas últimas décadas foi feito com fontes que
obtiveram provas de corrupção sem autorização: os Papéis do Pentágono,
Watergate, abusos da Guerra ao Terror, espionagem da NSA”, escreveu Greenwald,
antes de republicar uma mensagem que propõe que, mesmo a invasão de celular
sendo um crime que precisa ser investigado e punido, “nada diminui o interesse
público nas revelações” do conteúdo das supostas conversas entre Moro e os
procuradores da Lava Jato. (ABr)
Quarta-feira,
24 de julho, 2019 ás 14:42