Em tempos em tempos voltamos às
reformas políticas como solução para as crises do Brasil. Ou não seria aos
arremedos de reforma? Ideologias e práticas são confundidas, como se já não
bastasse conceber mudanças efetivas num cenário político desconectado da
sociedade.
Aqueles que se intitulam de
esquerda – ou que reforçam o rótulo de “progressistas” nos costados expostos
para plateias bovinas -, até por uma questão de sobrevivência, associam o
conservador a estereótipos negativos - autoritário, retrógrado, reaça,
fascista. O antidemocrata por excelência.
Mas, ao passo que o reacionário
planeja mudanças voltadas para um passado romantizado e utópico, o
revolucionário “de esquerda” idealiza saltos para o futuro. Ambos, cada um à
sua maneira, são utopistas radicais. Acreditam na possibilidade de reformas
extremas, tanto quanto na natureza invariável de um homem possuidor de uma
vontade sem limites para reformar um mundo estático cujos valores essenciais –
liberdade, igualdade e fraternidade – podem ser vivenciados sem antagonismos.
Exemplos de tais falácias abundam nas tragédias causadas por utopias no século
XX.
Ao contrário dos seus
estereótipos, o político conservador recusa a ação do presente baseada na fuga
para o passado (reacionarismo) ou para o futuro (revolução) e reage
defensivamente a estes apelos por perceber o potencial de violência que a
política utópica carrega. O mundo é visto com lentes realistas: a complexidade
da política é manipulada por um intelecto imperfeito, marca da natureza humana.
O conservador pratica, assim, uma
espécie de ideologia de ocasião, que emerge em nome da estabilidade apenas
quando há graves ameaças à ordem vigente. Para este tipo de homem, reformas são
preventivas e servem para melhorar ou preservar a realidade em risco, de modo
que os atalhos da violência e da destruição sejam evitados.
Humildade, prudência, ceticismo e
senso acurado dos próprios limites e da complexidade da realidade obrigam ao
pragmatismo, à valorização das tradições e circunstâncias, à coexistência de
valores múltiplos e antagônicos, ao pluralismo político.
Não foi sem (bem) pensar que os
britânicos recentemente reconduziram o insosso, mas eficaz, Cameron para gerir
os destinos do país. Preferiram a continuidade de políticas e programas que
conferiram estabilidade à sociedade inglesa num mundo conturbado.